IndieLisboa’15: a juventude rebelde

 

No sexto dia do IndieLisboa tivemos a oportunidade de ver o último documentário de Jean-Gabriel Périot, uma colagem de imagens de arquivo que, no final, se transforma numa longa-metragem carregada de simbolismo político e social. 
Este é um documentário poderosíssimo. Uma visão sobre os acontecimentos de que ninguém fala: a agitação social que se viveram no pós-guerra numa Alemanha dividida e destruída pela ideologia de extrema direita. Os anos 60 na RFA não foram, de todo, um mar de rosas e a viragem para uma Alemanha capitalista, imposta pela cultura americana, foi muito protestada pela camada jovem alemã. Jean-Gabriel Périot dá-nos agora um olhar atento sobre um dos períodos mais esquecidos da História do mundo ocidental em pleno período de guerra-fria.

Jean-Gabriel Périot monta arquivos e documentos – mais de 21 filmes – para questionar a forma como vemos a autoridade, as suas imagens, e a sua moral. Jeunesse allemande surge, assim, como um olhar sobre o mundo de hoje através do nascimento da RAF (Fracção do Exército Vermelho) e as suas origens na primeira geração pós-III Reich de estudantes de cinema em Berlim Ocidental.

Sendo um filme inteiramente composto por imagens de arquivo este é, sem qualquer dúvida, uma película que precisa de alguma preparação por parte do público. Os espectadores são, desde o início, bombardeados por informação e têm que estar predispostos a recebê-la para que o efeito do documentário resulte na sua totalidade. Périot dá-nos, na verdade, todos os materiais para tirarmos as nossas próprias conclusões, dando tanto espaço de antena às camadas mais jovens – e aos seus filmes de protesto – para que exponham os seus argumentos como, também, dá espaço aos discursos dos dirigentes da RFA que caracterizaram este grupo de activistas como terroristas e ameaça à segurança democrática daquela Alemanha ocidental.

A narração, muito bem escrita e concretizada, vai conectando as pontas soltas e guiando o espectador através da explosão de informação que se dá no ecrã. E é esta narração que faz com que o filme se revele como um pedaço bastante importante de história, uma parte da história que, por interesse de alguns, seria melhor ser mantida nas sombras. O grave problema de terrorismo social que a RFA sofreu nos anos 60 e a agitação social provocada pelos estudantes universitários era, como até vemos no filme, suprimida pela própria imprensa nacional e, com este documentário, é bom ver que estes acontecimentos decisivos na história da posterior unificação alemã são finalmente dados a conhecer a um público universal.

Depois de ter estreado no Festival de Berlim 2015, na secção Panorama, este filme encontra-se na secção competitiva do IndieLisboa’15, passando novamente a 30 de Abril, pelas 14h30 no Cinema São Jorge.

 

Ricardo Rodrigues
Espalha Factos
29 april 2015